segunda-feira, 19 de junho de 2017

Diário de filmes

O Pintrest é um dos meus lugares favoritos da internet para aqueles momentos em que você simplesmente quer rolar a tela infinitamente. Eis que, perambulando pelo site um dia desses, me deparei com um ideia que me capturou totalmente: film journals. Isto é, são diários de filmes nos quais você pode deixar registradas suas visões sobre o que assistiu. A Moleskine, marca de cadernos italiana mundialmente conhecida, produz e comercializa os tais film journals - e eles vem até com listas de festivais de filmes e seções organizadas alfabeticamente para preencher com informações a respeito das obras. Para quem não estiver disposto a comprar o diário original, montar o seu próprio a partir da customização de um caderno pode ser ainda mais divertido. 
Manter um diário do tipo parece ser uma experiência muito libertadora para a criatividade, além de um exercício puta legal para avaliar, após a sessão, tudo o que o filme representou para você - aquilo que mais gostou, o que mais deixou a desejar. E, ainda por cima, ter consigo sempre a memória dos bons dias e dos bons filmes - você pode, nas páginas, anotar a data em assistiu a tal filme e com quem. Eu selecionei algumas páginas de film journals que encontrei para inspirar; segue abaixo.










domingo, 11 de junho de 2017

MOVIE QUOTE: Before Sunrise, 1995


"Acredito que se há algum tipo de Deus, ele não estaria em nenhum de nós... em você ou em mim... mas nesse pequeno espaço entre nós dois. Se há algum tipo de magia nesse mundo, deve estar na busca de compreender alguém, compartilhar algo. Eu sei, é quase impossível de se conseguir, mas... quem realmente se importa? A resposta deve estar na busca."

quinta-feira, 8 de junho de 2017

A Poesia de Pasolini

Descrições que vão de versátil a controverso são geralmente empregadas para delimitar a figura de Pier Paolo Pasolini. Seu caminho na Sétima Arte é mais que conhecido, tendo produzido clássicos polêmicos, contestadores e inquietantes como "O Evangelho Segundo São Mateus" e "Teorema". Colaborou ao lado de Felini no roteiro de ''Noites de Cabíria'' e nos diálogos de ''A Doce Vida'' antes de dar seu primeiro passo solo na direção do filme ''Accattone - Desajuste Social'', em 1961. Pasolini, no entanto, é um homem de mais facetas que a que se deixava entrever por detrás das câmeras: era graduado em Literatura pela Universidade de Bolonha e trabalhou como professor, poeta e novelista. Merece destaque ainda seus estudos para a promoção da língua de onde era natural, o friulano.

O Pasolini escritor é, talvez, um lado do premiado cineasta ainda pouco conhecido no Brasil. Há cerca de dois anos a editora Cosac Naify lançou por aqui uma antologia em edição bilíngue que reúne o trabalho poético "experimentalista" do herdeiro do neo-realismo italiano. Convivem, nas mais de 300 páginas, temas sociais e políticos, aos quais Pasolini, enquanto ativista, era tão ligado, assim como a sensualidade, o amor e a memória - "parte deles em dialeto friulano, pode-se dizer que denotam uma sensibilidade extrema, confessionais e ao mesmo tempo voltados para a temática social.

Deixo aqui registrado um poema do diretor italiano que particularmente me arrebatou e com o qual topei no Escamandro. A tradução é de Cide Piquet e Davi Pessoa.

Versos do testamento
A solidão: é preciso ser muito forte
para amar a solidão; é preciso ter pernas firmes
e uma resistência fora do comum; não se deve arriscar
pegar um resfriado, gripe ou dor de garganta; não se devem temer
assaltantes ou assassinos; há que caminhar
por toda a tarde ou talvez por toda a noite
é preciso saber fazê-lo sem dar-se conta; sentar-se nem pensar;
sobretudo no inverno, com o vento que sopra na grama molhada
e grandes pedras em meio à sujeira úmida e lamacenta;
não existe realmente nenhum conforto, sobre isso não há dúvida,
exceto o de ter pela frente todo um dia e uma noite
sem obrigações ou limites de qualquer espécie.
O sexo é um pretexto. Sejam quais forem os encontros
― e mesmo no inverno, pelas ruas abandonadas ao vento,
ao longo das fileiras de lixo junto aos edifícios distantes,
que são muitos ― eles não passam de momentos da solidão;
mais quente e vivo é o corpo gentil
que exala sêmen e se vai,
mais frio e mortal é o querido deserto ao redor;
é isso o que enche de alegria, como um vento milagroso,
não o sorriso inocente ou a prepotência turva
de quem depois vai embora; ele traz consigo uma juventude
enormemente jovem; e nisso é desumano,
porque não deixa rastros, ou melhor, deixa um único rastro
que é sempre o mesmo em todas as estações.
Um jovem em seus primeiros amores
não é senão a fecundidade do mundo.
É o mundo que chega assim com ele; aparece e desaparece,
como uma forma que muda. Restam intactas todas as coisas,
e você poderia percorrer meia cidade, não voltaria a encontrá-lo;
o ato está cumprido, sua repetição é um rito; pois
a solidão é ainda maior se uma multidão inteira
espera sua vez; cresce de fato o número dos desaparecimentos ―
ir embora é fugir ― e o instante seguinte paira sobre o presente
como um dever; um sacrifício a cumprir como um desejo de morte.
Ao envelhecer, porém, o cansaço começa a se fazer sentir,
sobretudo naquela hora imediatamente após o jantar,
e para você nada mudou; então por um triz você não grita ou chora;
e isso seria enorme se não fosse mesmo apenas cansaço,
e talvez um pouco de fome. Enorme, porque significaria
que o seu desejo de solidão já não poderia ser satisfeito;
e então o que o aguarda, se isto que não se considera solidão
é a verdadeira solidão, aquela que você não pode aceitar?
Não há almoço ou jantar ou satisfação do mundo
que valha uma caminhada sem fim pelas ruas pobres,
onde é preciso ser desgraçado e forte, irmão dos cães.